quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Crescendo com música

Quando era adolescente, o que mais eu fazia era ouvir música.
Músicas que naquela época a maioria dos adolescentes não ouviam.
Minha turma de amigos dessa época era diferente das demais.
Na verdade, éramos maravilhosos (modestos também).
Tóia e Kátia, por favor comentem confirmando isso. Ei, viva o senso de humor !!
Gostávamos de boa música e de ler.
Nos interessávamos por política, o que era diferente dessa bandalheira de hoje.
Éramos todos meninos nascidos durante a ditadura militar.
Alguns tinham irmãos mais velhos já na universidade.
Desses, herdamos o bom gosto musical.
Com Milton, Tom, Chico, Caetano, Elis, Nana, Dorival e Dory Caymmi, João Bosco, Edu Lobo, Francis Hime e tantos outros, fomos nos educando politicamente e lapidando nossa sensibilidade. Era tempo de ser feliz e crescer, por dentro e por fora, protegidos por nossas famílias classe média.
A visão da vida e do futuro era tão....poética.
Dia desses fiquei olhando para a quantidade enorme de LPs desse tempo que ainda guardo.
Não pretendo me desfazer deles.
Naquela época, a grana era muito curta.
Comprar um disco era uma conquista e tanto.
Literalmente contando moedas.
Lembro de quando comprei "Cinema Transcendental" de Caetano.
Fui para casa na maior ansiedade para ouvi-lo.
Ouvi num pequeno e muito simples toca-discos no meu quarto.
Gostava de ouvir sozinha, deitada e de olhos fechados.
Totalmente sintonizada na música.
E ouvia repetidas vezes.
Ouvia muito uma música que adorava, com o MPB4, do Garoto e do Chico Buarque: "Duas contas".
Eu a ouvia sem parar, música das antigas, das muito boas.
Que viagens eu fazia apenas ouvindo música.
Não bastasse eu ser careta desde aquela época, não precisava de outra química que não minha própria adrenalina, para deixar fluir as mais deliciosas sensações que a música me proporcionava.
Nessa audições adolescentes, totalmente inspirada eu acreditava realmente que o mundo poderia ser mudado, pretensiosa e ingênua.
Até hoje, duas coisas me incentivam a tomar decisões: -música e raiva.
Parece doido, mas é assim mesmo.
É tudo adrenalina.
Comecei a divagar e até esqueci porque comecei essa conversa toda...
A vida me levou por rumos áridos.
Fui trabalhar num ambiente burocrático e autoritário, muito chato.
Comecei a não ter tempo para música e para sonhar com mudanças no mundo, nem mesmo meu próprio mundinho.
A vida tornou-se mecânica, funcional demais.
Quando recentemente conheci "Siciliana" (até ela já está se acostumando a ser chamada assim),
nossas primeiras conversas eram sempre sobre música.
Através dela conheci bandas latinas contemporâneas.
E eu queria muito que ela ouvisse Mônica Salmaso.
Ainda não consegui, mas hei de vencer !!
Ela está aos poucos me devolvendo esse prazer:
- Degustar música e nutrir meu universo interior.
Estranho..., não sei se de fato ela consegue ver quem eu sou e o quanto minha alma é povoada. Aliás, acho que pouquíssima gente sabe. Não sou de entrega fácil e não estou enaltecendo isso, apenas reconhecendo.
Tomara que seja apenas questão de tempo, de ajustar a comunicação, afinar o instrumento, ao som de muita música boa que possamos compartilhar.
Até alguns minutos atrás estava salvando no computador meus CDs prediletos e ouvindo Rosa Passos. Alguns CDs que quero gravar para ela.
As vezes vejo nela um pouco de mim adolescente, cuidadosa com seus CDs, como verdadeiras relíquias.
Que bem essa menina está me fazendo.
Estou resgatando a mim, para mim e quem sabe, para quem mais pintar.

Um comentário:

Unknown disse...

Vim aqui pelo endereço que consta no perfil do seu orkut.Tamém tenho minhas lembanças de músicas do pasado e minha seleção musical se parece coma sua.Bacana isso! è bom a gente guardar discos como relíquias...vão nos acompanhar sempre...
Tudo de bom.Parabéns pelo espaço aqui.